RENOVAÇÃO
CARISMÁTICA CATÓLICA
– RCC/BRASIL –
MINISTÉRIO
DE PREGAÇÃO
“Convém que destes homens que têm estado em nossa companhia todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre
nós, a começar do batismo de João até o dia em que do nosso meio foi
arrebatado, um deles se torne conosco testemunha
de sua Ressurreição.” Atos 1, 21 e
22
Mas não
quero me ater nesse grande milagre após Pentecostes, e sim nas condições que
aqueles foram para a sala do cenáculo, que apesar da prostração creram na
promessa partir de suas experiências pessoais com a pessoa de Jesus
ressuscitado.
Lucas traça a meu ver um pequeno tratado a respeito
das condições necessárias para fazer parte do grupo de Jesus; formações essas
que os demais adquiriram previamente, visto que todos passaram pela catequese
de Jesus e na qual hoje somos convidados a refletir se estamos nos adequando a
essa exigência missionária sob o ponto de vista de conversão diária.
Vamos chamar os três passos citados na catequese de
Lucas de “critérios”, sob o ponto de
vista de um pequenino tratado, como já dito anteriormente.
“Que têm estado em nossa companhia...” (Via humana)
Vemos aqui o que se espera daquele que deseja ser
um discípulo, conhecer seu mestre. Jesus antes de qualquer coisa chama
aqueles que irão caminhar com Ele, chama-os e depois os envia, mas só os envia
porque os conhece de perto, sabe tudo sobre sua humanidade, cria vínculos. “Segurava-os
com laços humanos, com laços de amor” (Cf. Os 11, 4a)
É incompatível com a palavra alguém que quer ser
discípulo, mas não tenha caminhado com o mestre; esse caminhar passa pela
escola de Nazaré, pela carpintaria de José e finalmente no caminhar com Jesus.
O pregador a exemplo dos discípulos, passa pelo
processo de introjeção em seus traços, ou seja, assimilar interiormente, inteiramente e exteriormente
esses traços de maneira que as pessoas percebam muito rapidamente que sua
identidade personalidade moldada pelo Espírito Santo, é parecida com a de Jesus,
e embora sem deixar de ser uma pessoa.
Isto acontece com Pedro, ao ser reconhecido: “Pouco depois, os que ali estavam aproximaram-se de
Pedro e disseram: Sim, tu és daqueles; teu modo de falar te dá a conhecer, (Mt 26, 73). Podemos então nos perguntar: estamos parecidos com Aquele
que anunciamos?
Contrastamos com a sociedade atual pelo nosso modo de viver e se
comportar, uma vez que estamos sempre na companhia de Jesus? “Pelo
contrário, quem se une ao Senhor torna-se com ele um só espírito” ( 1 Cor, 6,17).
Paulo nos recorda que a união do homem com o Senhor
nos garante essa relação de caráter espiritual na intimidade entre aquele que
foi chamado e Aquele que chamou.
Daí formamos um caráter espiritual aos moldes daquele que é nossa
companhia, e então nossa vida cotidiana de discipulado deve ser sempre acompanhada
de Jesus e dos irmãos, do contrário o discípulo perde o termo de comparação na
caminhada e isso o desqualifica da condição de “estar em nossa companhia o tempo todo”.
O estar na companhia trata diretamente sobre ter feito uma experiência real
e definitiva com Jesus. Sem essa experiência verdadeira e estável, é impossível
um anuncio “real e definitivo de Jesus”. O anúncio está comprometido se não houver uma relação
de intimidade com Jesus na oração e na vida fraterna com os irmãos no seu mais
rigoroso sentido.
Uma experiência superficial leva o pregador a se
distanciar desse critério de proximidade, e como consequência, seu ofício poder
se transformar em aridez devido a autossuficiência. Em detrimento ao desejo do
anúncio, deseja antes ser mestre de outros. Essa experiência superficial
desgasta a natureza do chamado, que não é totalmente perdida, mas poderá estar longe
do motivo do anúncio, desejando ser em si o anunciado “Entre vós, porém, não será
assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo e todo
o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos” (Mar 10, 43 e 44)
Por essas razões, Pedro e seus companheiros escolheram dois que traziam
os sinais do mestre; Necessário era ser um homem experimentado na caridade, na
convivência fraterna e no serviço aos irmãos. Sinais que se manifestam na
pessoa, e por meio da pessoa, que tem uma amizade com Jesus intimidade. Intimidade
que se aprofunda por meio da ascese.
A
começar do batismo de João (Via espiritual)
Perceba bem que Lucas vincula esta condição ao
chamado de Jesus desde o início da sua vida pública, quando lá no Jordão
acontece a descida do Espírito sobre Ele sendo os discípulos testemunhas
oculares deste e de outros acontecimentos, definidores de seu ministério (Lc
3,22) com isso define um critério fundamental O batismo. Ou seja, a experiência
do batismo na sua totalidade é fundamental para aquele que anuncia. Não há anúncio
eficaz se não pela ação do Espírito Santo.
“Sem o Espírito
de Jesus, a liberdade se atrofia, a alegria se apaga, a celebração se converte
em costume, a comunhão se esfacela. Sem o Espírito a missão é esquecida, a esperança morre, os medos
crescem, o seguimento de Jesus desemboca na mediocridade religiosa” (Patriarca Atenágoras – Discurso por
ocasião do encontro com Papa Paulo VI – terra Santa- 1964).
Quando
conhecemos a vida de Jesus, o que Ele faz, sente e diz, concluímos: o homem é
inexplicável sem o Espírito. Sem o Espírito, que se recebe no batismo, tudo se
apaga; A confiança em Deus desaparece; A fé se debilita e consequentemente
caímos.
Por isso, o grande protagonista da missão é o
Espírito. A missão de
Jesus não pode ser entendida a não ser pela experiência de deixar-se conduzir
pelo mesmo Espírito num batismo entranhado na alma do anunciador
É
preciso voltar às fontes, à raiz, descobrir que a pregação deve ser, um fruto do
batismo. O Evangelho em toda sua pureza e verdade, que transforma de tal maneira que
proporciona uma mudança de mentalidade.
Deixar-nos
batizar pelo Espírito de Jesus não é, senão, nos deixarmos reavivar e recriar pelo
Espírito. De outra forma, nós cristãos não teremos nada importante a contribuir
com a transformação da sociedade, que se encontra vazia de interioridade, sendo
incapaz para o amor solidário e carente de esperança; portanto, ausente de
Deus.
Só
o amor ardente e inabalável logra alegrar nossa existência e possui, pois
transmite o segredo de dilatar o coração, nos colocando no lugar de servos que
se esforçam para fazer o melhor, mas que possuem a certeza de que quem batiza no
Espírito Santo, é Jesus, e que sem eles nenhum pregador ou pregadora pode ser
alguém que de fato possa servir ao Senhor eficazmente.
Só o amor verdadeiro e ardente que o
Espirito Santo nos dá no batismo nos faz alguém saber seu lugar, como João
Batista: “ele
tomou a palavra, dizendo a todos: Eu vos batizo na água, mas eis que vem
outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a
correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo ( Mar 3,16)
Se
muitas são as horas de tristeza, de abatimento e desejo de abandonar o
ministério, é porque esse batismo ainda não é uma realidade concreta. Se o
anunciador não estiver convencido de que Jesus o amor e se não pautar a sua
vida a partir de uma experiência constante da fé revelada, sua pregação tende a
ser uma junção de palavras ou conselhos pseudamente piedoso. Em contrapartida,
se observarmos a tentativa de Lucas o batismo de João até o dia em que Jesus foi
arrebatado, certamente o homem espiritual proposto e possível é aquele que se
revela ao mundo num anúncio vivo e eficaz “Com efeito, aquele que Deus
enviou fala a linguagem de Deus, porque ele concede o Espírito sem medidas” (Jo
3,34)
Se torne conosco testemunha de sua Ressurreição (Via
da Cruz e da Glória).
Os Apóstolos discípulos tinham bem claro
que aquele que seria incluso no grupo dos doze necessariamente precisaria ter visto
o ressuscitado. Além disso precisaria ter compreendido o sacrifício de Jesus e
suas consequências, bem como a ideia de que logo eles também poderiam ser
martirizados por causa de Jesus.
Lembremos de
Estevão, que no momento de martírio experimentou a via da cruz, e entretanto, pelo
Espírito que o batizara se manteve olhando fixo para o céu, via de glória. “Mas,
cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de
pé à direita de Deus: Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do
Homem, de pé, à direita de Deus (
Atos 7, 55 e 56).
Ele viu o céu
aberto, talvez como recompensa, ou como estímulo para que continuasse a testemunhar
a ressureição, enquanto seus algozes destilavam ódio, o pregador compreendia
ignorância deles e os perdoava. A experiência do amor de Deus passa pela cruz e
culmina no céu.
Ser testemunha
da ressureição implica em aceitar o que Deus permitir que passemos, sem nenhuma
murmuração, “nem persistir sempre no descontentamento, senão o espírito desfalecerá
diante de mim, assim como as almas que criei. ( Is 57, 16b). Mesmo sendo
apedrejado, o espirito de Estevão estava firme, pronto, pois tinha um projeto
no coração: a glória de Deus.
Permita-me
perguntar: Qual é o seu projeto?
Quando Lucas
escreve “se torne conosco” fica claro
que Pedro já se destaca como o primeiro entre os iguais e tem uma intuição que
mesmo tendo Jesus soprado sobre eles e tendo recebido o Espírito eles
perseveravam com vistas a uma promessa, “mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos
dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria
e até os confins do mundo” ( At
1,8)
A força assim
chamada por Jesus nos ajuda a passar com humildade e gratuidade as tribulações
e reveses. Mesmo no meio das dores,
fadigas acabrunhadoras e diárias, revoltas interiores, emendas necessárias face
aos desvios no campo da moral, só um espírito contrito compreende essa
necessária graça da cruz. O verdadeiro discípulo utiliza todos os triunfos e
reveses, submete-os com humildade ao poder do Espírito para aumentar a sua
esperança e dilatar a sua alma num abandono na experiência da cruz que lhe fará
testemunha da ressurreição.
“Tudo padeceu por nós para
alcançarmos a salvação; e padeceu de verdade, como também de verdade
ressuscitou a si mesmo” (Cf Da Carta aos Esmirnenses, de Santo Inácio de
Antioquia, bispo e mártir.Inscriptio; nn. 1,1–4,1: Funk 1, 235-237 -Séc. I)
A paixão, morte e ressureição de seu mestre para, de verdade, testemunhar
algo que ele viu e ouviu.
Ao coroar Cristo “Pilatos
disse: Eis o homem!” ( Jo 19, 5). Em outras palavras, este é um modelo a ser seguido, este é o homem
ideal, perfeitíssimo, o universal perfeito na sua totalidade. Os apóstolos
pretendem imprimir para si e para o novo companheiro a necessidade iminente da
compreensão da cruz e da ressureição, e isso só é possível a partir do momento
em que olhamos o campo de missão do centro para fora; portanto, com olhar de
Jesus que deve estar no centro da vida e não nas periferias.
Não é possível olhar para fora sem testemunhar, passar por dentro do
calvário interior de nós mesmos, e é ali que vamos vencendo, se me permite, a
nossa faixa de gaza com tantos conflitos!
A Cruz revela quem somos de fato e nos faz olhar para Cristo despojados
de nós mesmos; a arma poderosa da Cruz nos desarma completamente.
“Se procuras um exemplo de
humildade, contempla o crucificado: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e
morrer” ( Das Conferências de Santo Tomás de Aquino,
presbítero - Colatio 6 super Credo in Deum - Séc.XIII).
Na paixão de Cristo encontramos remédio
contra todos os males que nos sobrevêm por causa dos nossos pecados. A paixão
de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na
perfeição, basta desprezar aquilo que Cristo desprezou na cruz e desejar o que
ele desejou. Na cruz não falta nenhum exemplo de virtude.
Se, portanto, temos na cruz e na ressurreição todos os exemplos de
virtude, logo, no batismo, recebemos tais virtudes na sua integralidade, pois “Deus-Filho
se fez aquilo que somos, para que nós viéssemos a ser aquilo que Ele é" (S. Irineu. Adv. Haer. Praef. PG 7,875;
7,1120;). Quando decidimos ser com os irmãos
testemunhas da ressureição, estamos dispostos a permitir essa ação libertadora
do Filho, que diante de Deus roga por nós.
E mais, cada vez que testemunhamos Cristo pela virtude do Espírito, nos
moldamos a Ele dia-a-dia tão naturalmente que o mundo vê, sem esforço, os
traços do ressuscitado em nossas ações. Não podemos nos limitar a ficar
admirando o mestre como os discípulos ficaram ao olhar para o céu ao vê-lo
partir; mas, além de compará-lo em sua glória precisamos prioritariamente
imitá-lo. Só assim poderemos ser participantes da sua glória.
Que o Espírito nos ajude a viver essas
dimensões com resiliência suficiente para suportar cada desafio que se nos
impõe as consequências da nossa pregação, que Ele nos convença quanto ao homem e
à mulher espiritual que devemos ser; que o Espírito nos inspire bons e sinceros
propósitos de retidão e verdade em tudo; que nossa vida se conforme com a vida
de Cristo. Dessa forma, certamente pautaremos também nossa conduta de acordo com
o Espírito.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado!
Por:
Ademir Manoel do Nascimento
GO Nova Aliança,
Barueri/SP
Equipe Nacional do MP
RCC/BR